Aviso:

Agora, a oficina online poesia feita de quê? possui um blog próprio http://poesiafeitadeque.blogspot.com/. Estão todos convidados: participem!

quarta-feira, setembro 29, 2010

terça-feira, setembro 07, 2010

Ondas literárias - agora disponível em áudio no blogue

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2V2bqA1jCPPefxtpSojPShkrLCmL4P6PWmznz2amWIafcM6LVMHTGI7C7ysBnWLd9l5evVLTGOaZJSMpqJxUMcv2R3FLfDJyauWfeRSnpjZztmcpnaWmKboIwiT5Bg7jTU5iOzA/s1600-r/CABECALHO.png


A série Ondas literárias levou aos ouvintes das rádios Cultura de Amparo e Cultura Brasil um panorama da poesia brasileira contemporânea. Os programas, agora, podem ser ouvidos nos links que se encontram no blogue: http://ondasliterarias.blogspot.com
Além de entrevistas com vinte e três poetas (gravadas em 2008), os programas apresentam dicas culturais, leituras e adaptações de poemas em áudio dos entrevistados e também de André Dick, Angélica Freitas, Francisco dos Santos, Lígia Dabul, Philadelpho Menezes, Priscila Figueiredo e Tarso de Melo.  
PROGRAMA1 CELSO BORGES PROGRAMA2 FABIANO CALIXTO PROGRAMA3 CLAUDIO DANIEL PROGRAMA4 DONIZETE GALVÃO PROGRAMA5 MARCELO MONTENEGRO PROGRAMA6 FABIO WEINTRAUB PROGRAMA7 RICARDO ALEIXO PROGRAMA8 PAULO FERRAZ PROGRAMA9 RONALD POLITO PROGRAMA10 ADEMIR ASSUNÇÃO PROGRAMA11 VIRNA TEIXEIRA PROGRAMA12 ALICE RUIZ PROGRAMA13 RODRIGO GARCIA LOPES PROGRAMA14 ANNITA COSTA MALUFE PROGRAMA 15 HEITOR FERRAZ MELLO PROGRAMA16 CARLITO AZEVEDO PROGRAMA17 ANA RÜSCHE PROGRAMA18 RUY PROENÇA PROGRAMA19 FREDERICO BARBOSA PROGRAMA20 REYNALDO DAMAZIO PROGRAMA21 MARCOS SISCAR PROGRAMA22 RICARDO DOMENECK PROGRAMA23 FÁBIO ARISTIMUNHO VARGAS PROGRAMA24 PIQUE (audioficção)
 
Este projeto contou com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo - Programa de Ação Cultural 2007.




sábado, outubro 31, 2009

O caso do vestido



Fonte: http://useloos.com/gallery/?itemid=114



Nossa mãe, o que é aquele
Vestido, naquele prego?


Minhas filhas, é o vestido
De uma dona que passou.


(Carlos Drummond de Andrade)


Era caso, no máximo, para cair nos patrulhamentos de estilo e aparência, nos reality shows que proliferam vendendo a ilusão de que todos podemos nos adequar esteticamente aos padrões vigentes sacando o cartão de crédito e transformando em beleza certificada a abstração do dinheiro. Era isso, no máximo. Mas virou questão de segurança, e a polícia teve que escoltar Geyse Arruda em sua saída da universidade.
A cena gera muitas questões, apesar da sua aparente banalidade (ou não?). A extravagância – ou apelo à sensualidade – da moça foi punida com uma reação em cadeia. Nos programas de TV e de rádio, foi expediente comum os jornalistas incentivarem estudantes da Uniban, ou mesmo os ouvintes e espectadores, a se manifestar sobre o assunto. Era caso para isso? Obviamente, não poucos tentaram justificar o ocorrido comentando a inadequação da vestimenta da moça. Então, vamos a isso primeiro.
Muito se fala do poder e da liberdade da mulher contemporânea, em suas conquistas quando comparamos o papel social feminino em relação ao que já foi anteriormente. Mas em um aspecto, creio, a mulher ainda sofre as mesmas cobranças – talvez mais – do que no passado: a sua aparência. As “maravilhas” da ciência, parece, vieram complicar um pouco as coisas... Diariamente nossos olhos são invadidos por “modelos de perfeição” inatingíveis, corrigidos pelas mãos de esteticistas, maquiadores, cirurgiões, editores de imagem e por aí vai. Desde pequenas, assistindo a programas de televisão, vendo as revistas em bancas, as meninas espelham-se em imagens de garotas que nunca têm um fio de cabelo fora do lugar, nunca transpiram, nunca engordam... Quando enfrentam as mudanças da adolescência, é fácil que se sintam frequentemente inadequadas e queiram se aproximar daqueles modelos. “Magra, linda e feliz” é o que as revistas de fofoca colocam como subtítulo das fotos das “mulheres bem-sucedidas” em destaque na mídia. Toda essa digressão porque a imagem de Geyse Arruda nos noticiários conota um esforço para enquadrar-se nesse padrão, que se opõe à ideia de “beleza natural”, “espontânea”. O desejo de ser bela, poderosa, provocante – como qualquer adriane galisteu dos shows televisivos – parece ter moldado o figurino da estudante.


De um lado, a femme fatale que, vestida para a balada, abalou. De outro, os colegas e funcionários da faculdade que hipocritamente se sentiram no direito de mostrar (ou forjar) indignação. Se ela existisse, seria porque todos consideravam que se vilipendiava um sagrado templo do estudo. Pois é, o que inviabilizaria o coro de gritos e palavrões, e o tom geral de “estamos matando aula” dentro do referido “templo”. Talvez, de forma injusta, eu vislumbre nesse ato de vandalismo o indício de um respaldo da universidade ao comportamento dos alunos, ou melhor, clientes. A educação, tratada como mercadoria, tem recebido o aval oficial do Ministério da Educação, que observando o fracasso do ensino fundamental e médio nas escolas públicas, faz vistas grossas aos “atacadões” de ensino superior particular. É como se fosse um pacto: nós, universidades particulares, oferecemos preços razoáveis e deixamos todos os jovens (que puderem pagar) ingressar em nossos cursos, sem exigir qualquer competência acadêmica prévia; vocês, do governo, fingem fiscalizar nossas práticas. E dá-lhe demissão de professores doutores após reconhecimento do curso, dá-lhe bibliotecas “alugadas” para agradar ao MEC, dá-lhe ausência de planos de carreira para funcionários e esquemas de facilitação para manter os alunos ativos, pagando mensalidade. Não admira que o ocorrido demonstre o quanto os nossos jovens estejam incertos sobre o sentido da educação, do respeito e da democracia.

sábado, março 14, 2009

Srta Kwy - Uma performance literária virtual


A Srta Kwy nascerá dia 15/03, às 20 horas e morrerá no dia 22/03, 20 horas. Terá em sua existência breve um único objetivo: ser humana. Ela quer transcender seus limites maquínicos para estabelecer uma experiência sensível e única. Encerrada nos labirintos virtuais, logo perecerá. Mas talvez a sua memória colabore, e a deixe mais tempo viva.

Visite-a em http://srtakwy.blogspot.com

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Lançamento do Casulo nº 10

Enfim chegamos a décima edição do jornal O Casulo. Uma dezena de edições não é pouco em se tratando de um veículo literário e, pior, focado em poesia (e, para acrescentar, poesia contemporânea). Mas estamos aqui, comemorando estes 10 números feitos sempre com muita gana com ótimos conteúdos. Desta vez, temos uma entrevista com Armando Freitas Filho; poemas de Danilo Bueno, Márcio-André e Valéria Tarelho; uma homenagem a José Paulo Paes; resenha sobre primeiro de Diniz Gonçalves Jr, um pequeno artigo crítico sobre a poesia de Paulo Ferraz, crônicas de Elisa Andrade e Andréa Catrópa e tradução de poemas de Kim Doré.
O lançamento será dia 17 de dezembro, próxima quarta-feira, às 19 horas, na Biblioteca Alceu Amoroso Lima. O jornal é distribuído gratuitamente com o apoio do projeto VAI da Secretaria de Cultura do Município de São Paulo. Durante o lançamento haverá um bate-papo sobre o poeta José Paulo Paes, uma apresentação de Márcio-André e um sarau aberto com a participação dos poetas publicados no jornal. Sinta-se a vontade para ir, pegar seu exemplar do jornal e ler seus poemas no palco.




quarta-feira, outubro 22, 2008

Ondas Literárias


Ondas Literárias, série de 24 programas em áudio, traz entrevistas, adaptações sonoras de textos e dicas culturais de diversos poetas, como Carlito Azevedo, Frederico Barbosa, Alice Ruiz e Ademir Assunção, entre outros. Contando com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura (PAC 2007) e já veiculada no interior de São Paulo, pela Cultura FM de Amparo, a série agora estreará na Rádio Cultura Brasil. O primeiro entrevistado será o poeta e jornalista maranhense Celso Borges. Confira!

Quando: aos sábados, das 10h30 às 11h00
Onde: Rádio Cultura Brasil (1200 kHZ).O programa pode ser ouvido no mesmo horário pelo site www.redeculturabrasil.com.br

Para comentários ou informações, acesse o blog http/:ondasliterarias.blogspot.com

quarta-feira, outubro 01, 2008

Quarto exercício - poema de Afonso Junior Lima

Mulher com xale

Por entre nuvens desço até a cidade
vejo o Tietê que recebe carros, vidro e o lilás da tarde
Deus, meu Deus, que menina é essa, encolhida no chão?
Chão, chão, esse chão de pedra, fluxo e metal e Niemeyer
Por que existem homens invisíveis neste mundo em transição?
Por que comes esta gosma verde e buscas comida no lixo?
Por que um rato se move ao redor da cama de trapo onde dormes?
Por que dormes sobre papelão e tua barba é grande?
Por que tuas coxas largas estão riscadas de negro e cinza, e tu escondes a cabeça como um animal em panos?
Por que teus pés têm manchas escuras no frio?
Por que dormes sobre o degrau da escada, com tua cabeça sobre o papelão?
Por que meu olho já não te vê, eu que sou aranha da teia?
Se cada flor tem seu aroma e o mundo precisa de todas?
Onde está a poesia da liberdade
que respira, vê e dá as mãos
Se a cidade quer subir e não há tempo que não seja pouco
Se mais e mais é infinito e cada ser dorme e duvida
Quem criou o certo e o errado, o valor zero do invisível?
Eu quero sentir o calor do teu corpo
teu corpo negro com vida e correndo comigo
E se pedirem a Alma, a lógica e a letra
eu as queimarei todas no meu beijo de terra
Saúdo a terra e tudo que há em ti
Anjo da noite, coração oculto, irmão vivendo da treva
Teu coração é um tesouro silencioso.



(Afonso Junior Lima)

sexta-feira, setembro 26, 2008

Quinto exercício — poerma de Paulo Moreira

O poema desliza em si mesmo como um cubo de gelo numa chapa quente

O poema desliza em si mesmo
como um cubo de gelo
numa chapa quente.

O medo amargava o cabo da língua
em Barbacena os loucos desencarnavam
dentro de barris cheios de ácido
detalhando o podre do são
e os ossos abasteciam os mostruários
das escolas de medicina onde se aprendia
a autopsiar fugas e atropelamentos impossíveis.

O poema desliza em si mesmo
como um cubo de gelo
numa chapa quente.

Gostava dele quando eu fechava os olhos,
na língua sem palavras que trago comigo,
e era tudo um imenso domingo universal.
O calor em que o cão pendura a língua
segurava meu coração pelo rabo
na linha de resguardo,
mas não parava o tempo.

O poema desliza em si mesmo
como um cubo de gelo
numa chapa quente.

Atrás de sorte e morte
as ruas fermentavam restos de urina e cerveja quente
mas o patrimônio específico dos corações inferiores
como o meu é o ressentimento,
canoão no seco, trem de doido,
pronto para me levar para Barbacena,
oco sem beiras,
para parar de ser.

O poema desliza em si mesmo
como um cubo de gelo
numa chapa quente.

Quando a gente se acostuma com esse vendaval
só se ouve o silêncio que existe em toda a solidão.
Cai o parasita, fica o tronco morto,
imagem do desconsolo.
A seleção natural, o equilíbrio das espécies:
para mim é o horror do mundo.

O poema desliza em si mesmo
como um cubo de gelo
numa chapa quente.

Em nome de nada, em nome de ninguém, sem nenhum sonho,
eu como o poema e não o seu nome;
sem ternura, sem a paixão da piedade, sem saudade,
fome que nasce quando a boca está perto da comida,
o poema limpo do retorcido desejo humano,
existindo como é.

O poema desliza em si mesmo
como um cubo de gelo
numa chapa quente.

Eu sei.

(Paulo Moreira)

quarta-feira, setembro 10, 2008

Notas sobre Homeland, de Laurie Anderson (escrito por Andréa Catrópa)



We’re sailing through this transitory life

A dúvida que paira sobre a possibilidade da representação do horror por meio das palavras também se estende à maravilha – como não vulgarizar uma experiência positivamente singular e perturbadora? Até que ponto a tentativa de explicar e, de alguma forma, categorizar o vivido não é também uma forma de defesa, que nos permite diminuir e expulsar o impacto de um evento para que mais rapidamente voltemos àquilo que a vida nos exige? No entanto, a objetivação desse mesmo impacto aponta também para uma transformação confirmadora de sua fecundidade, idéia que me socorre para justificar este ato. Desde o início de Homeland, show de Laurie Anderson apresentado neste fim de semana no Sesc Pinheiros, uma impressão me incomodava, por inicialmente parecer injustificável. A sua performance me parecia verdadeiramente “clássica”. Dividida entre a entrega ao arrebatamento que o show me provocava, e a cisma em tornar racional minha impressão, busquei conforto no seguinte artefato teórico: afinal, não se fala de uma institucionalização da vanguarda? Mas o fato é que esse processo opera na diminuição do alcance dos questionamentos vanguardistas, o que, de fato, não era o caso. O minimalismo e a exatidão conviviam no palco com a riqueza de detalhes, as camadas de som e as inflexões de canto e voz totalmente precisas, o texto repentinamente oscilando do excerto jornalístico para o lirismo onírico, a reflexão sobre o particular histórico permeada pela referência ao mais íntimo, os recursos eletrônicos em precisa consonância com a realização humana. Só após o término do show, com o constrangimento de enfrentar a fila da saída e ouvir os comentários que, por menos equivocados que fossem, seriam uma banalização do presenciado, só depois de entrar no carro e me afastar dali, percebi o que me permitia atribuir à Homeland a qualidade de expressão clássica. Se ao moderno se liga a idéia de fragmentação e descontinuidade, ao clássico está implícita a noção de continuidade, e de perfeita possibilidade do artista expressar-se materialmente, ainda que do eterno e modelar o homem só possa conhecer o simulacro. O reconhecimento da precariedade humana surge na obra de Anderson como um eixo central e, por isso, longe de ser uma falha, é a condição da redenção. A serenidade absoluta com que a artista opera a confluência de diversas linguagens artísticas só confirma isso, e expressa uma compreensão do uso colaborativo de artesanato e tecnologia como uma forma transitória, particular e, portanto, absolutamente contemporânea de atribuir algum sentido à vida.


escrito por Andréa Catrópa

domingo, setembro 07, 2008

Quinto exercício - texto 3

"Na verdade, a resistência também cresceu junto com a 'má positividade' do sistema. A partir de Leopardi, de Hölderlin, de Poe, de Baudelaire, só se tem aguçado a consciência da contradição. A poesia há muito que não consegue integrar-se, feliz, nos discursos correntes da sociedade. Daí vêm as saídas difíceis: o símbolo fechado, o canto oposto à língua da tribo, antes brado ou sussurro que discurso pleno, a palavra-esgar, a autodesarticulação, o silêncio. "

(retirado do ensaio "Poesia-resistência" de Alfredo Bosi, edição de 1977)

Quinto exercício - texto 2

"A distinção da poesia moderna é que ela concentrou-se em enumerar 'os traços da tulipa'(1); mas de novo ela demonstrou seu poder de universalizar o particular, conferir um novo centro a experiências que, segundo todos os critérios clássicos, deveriam ser periféricas, porque são as experiências dos especialistas. O poeta moderno pode 'enumerar os traços da tulipa' e não só pensar que esgotou, mas esperar ter esgotado o assunto; porém, goste ou não, ele disse algo novo sobre flores e homens."

(retirado do livro A verdade da poesia de Michal Hamburger, publicado pela primeira vez em 1969; tradução de Alípio Correia de Franca Neto)

(1) Referência, citado anteriormente no texto, ao pensamento de Samuel Johnson: "o assunto do poeta consiste em examinar não o individual mas a espécie (…); ele não enumera os traços da tulipa nem descreve os diferentes tons na verdura da floresta."

Quinto exercício - texto 1

"Dentre os que estão hoje presentes neste teatro, ninguém vai se vangloriar perante seus conhecidos pelo fato que seu filho, filha ou sobrinha sabem coser bem umas botas ou preparar comida gostosa, mas se vangloriam em toda parte se eles sabem, no dia dos anos de alguém, escrever duas coluninhas de versos num álbum ou desenhar a cabeça de um gatinho.

O primeiro (coser umas botas, preparar comida) era considerado 'trabalho comum', e disto se ocupava o operário.

O segundo se chamava 'criação artística' e disto se ocupavam os eleitos, os 'intelectuais'.(…)"


(retirado do Resumo da palestra "Abaixo a arte, viva a vida!" de Vladímir Maiakóvski, 16 de janeiro de 1924; tradução de Boris Schnaiderman)

sábado, setembro 06, 2008

Oficina criativa: Faça você mesmo


O quê?
Laboratório de experimentação poética com Elena Medel e Juan Carlos Reche;
Participação dos poetas Berimba de Jesus, Carol Marossi, Andréa Catrópa e Rica P.

Quando?
Segunda-feira, dia 08 de setembro
às 19:30 h

Onde?
Casa das Rosas - Av. Paulista, 37
próximo a saída da estação Brigadeiro do metrô

quinta-feira, setembro 04, 2008

Terceiro exercício - poema de Afonso Junior Lima

Quem cortou o teu olhar ao meio?
Por que não pertencemos ao chão?
E se não fosse necessário?
Andar sem fim e sem paz
Produzir? Por que?
Arte, produtos, pessoas
há coisas vivas lá dentro
primavera em São Paulo
menos mais e mais melhor
por que sabemos tanto
que nos vale saber tudo?
Gênio saber perguntar
e se eu me perdesse vez em quando nas calçadas
e achasse luz suave nas ramagens
silencia a morna música dos peixes
adeus ao olhar sem escuta
motores de dizer sem voz
esvazie o olhar a pele conhece
não o prazer fácil de um disparo químico
mas o prazer sujo de muitas vidas humanas
Sempre é crise um mundo novo
Mas se não o conhecemos, quem seremos?

(Afonso Junior Lima)

quarta-feira, setembro 03, 2008

Segundo exercício - poema de Afonso Junior Lima

A cidade é moderna
A cidade se esconde dela
A cidade é outra e bela
Música do desassossego

(Afonso Junior Lima)

Primeiro exercício - poema de Afonso Junior Lima

Se sou fragmento
como formar imagem?
Sou a renda perdida no espaço
a anatomia na sombra e no sonho
Por que motivo me acharia?
Quero ver o mundo e estar vivo
nesse selvagem mergulho nas folhas
(Evoque o espírito da mata
a cabeça acha o corpo de barata)


(Afonso Junior Lima)

segunda-feira, setembro 01, 2008

Terceiro exercício - poema de Nestor Corso

TROVÔES PARRUDOS, CORAÇÃO OSSUDO, VENTO SOTURNO
As ruas são meus brinquedos, passo pelos becos e seus segredos
Embora um tanto DESILUDIDO, meus ossos ainda respondem
Meu estômago não rompeu laços diplomáticos
Muitos nas calçadas se escondem, muito mais DOLORIDOS
Do que eu, um metido a super bonzinho em seu apogeu
Um amante social que só enxerga os coliseus
Há uma senhora adormecida, com sua expressão e seu coração
Passando-me um telefone sem fio, sugerindo uma partida
Sua fronte apaga as luzes
É mínima sua respiração
Um xale tenta proteger seu corpo, mas há algo ENRUSTIDO...
Que sua própria expressão mostra apesar de qualquer proteção
Talvez o frio a possua
Talvez encontre um SENTIDO
Antes que a ironia de um tal destino, um cara às vezes safado
Resolva dar uma passada supostamente para lhe jogar uns trocados
Ou apenas para ser chamado de DESGRAÇADO! sim, DESTINO,
Não se faça de desavisado... DESAVISADO!

(Nestor Corso)

domingo, agosto 24, 2008

Quarto exercício - escultura 3

Franz Weissmann, Grande quadrado vermelho, 1996
(instalação metálica, dimensões desconhecidas, na Avenida República do Paraguai, Rio de Janeiro).

Quarto exercício - escultura 2



Raoul Hausmann, Mechanischer Kopf (Der Geist unserer Zeit)*, 1920
(manequim para penteados com carteira de couro de crocodilo, régua, mecanismo de relógio de pulso, pedaços de bronze de uma câmera velha, cilindro de máquina de escrever, fita métrica, dedal, pregos e parafusos, 32,5 x 21 x 20 cm).
Acervo do Centre Pompidou, Musée national d'art moderne-Centre de création industrielle, Paris, adquirido em 1974.


* Cabeça mecânica (O espírito de nosso tempo)

Quarto exercício - escultura 1

Petrus Verdier, Mulher com xale, 1908
(madeira entalhada e marfim esculpido, 24 x 16,5 x 24 cm, assinada).
Acervo do Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, adquirido em 1913.

domingo, agosto 17, 2008

Terceiro exercício - vídeo 3



(Tadeu Jungle, corpo, corpo, corpo, 2005)

Terceiro exercício - poema de Nana M.

há um desejo
escondido em algum canto do meu corpo,
desperdiçado em lençóis e lágrimas,
libertado num prazer solitário.

ele, causador da minha fome,
movido por esse desejo que sinto,
alimenta ilusões e traz a lembrança
de uma confusão de mãos, bocas, línguas e medos,
durante minutos que pareciam eternos.

os corpos unidos eram a única harmonia.

e ele desaparece,
deixando a saudade,
uma tristeza sufocante,
um vazio íntimo,
e o desejo desperto
que jamais será
saciado.

(Nana M.)

Terceiro exercício - vídeo 2



(George Maciunas, Fluxfilm 08: 1000 Frames, 1966)

Segundo exercício - poema de Nana M.

enquanto números correm freneticamente no relógio
a existência inevitavelmente caminha em direção ao nada

ser efêmero

afia-se a lâmina fria
que penetrará suavemente na carne ainda quente
libertando
escravizando
punindo
curando
matando
o frágil
alimentando
o forte

o desolado
entorpece-se para calar
o tédio
a vida
a angústia existencial
e o vazio de ser

humano

(Nana M.)

Terceiro exercício - poema de Andréa Catrópa

são os números que nos governam
ao contrário
do que pensamos
em seu universo
não há
ordenação
possível
só dez
algarismos dançando
inconseqüentes
fixando datas
destinos
contando
os segundos
que restam
somando
os idos
decrescendo
as faltas
gerenciando
empresas
ampliando
escolas
extrapolando metas ilhando seres trancando as grades por vinte e quatro meses fechando a cota de aves civis e soldados para o abate

(Andréa Catrópa)

Terceiro exercício - vídeo 1



(Luis Buñel, Un Chien Andalou, 1929)

Terceiro exercício - poema de Edgar Belial

Meu olho

De minhas pupilas em midríase,
Sangue e lágrimas, escorreram.
Estancaram com uma gaze;
(Estou deitado na fria mesa.)

Meu olho esquerdo foi cortado
Cirurgicamente ao meio,
Com um instrumento afiado.
(Como uma suculenta fruta tropical.)

Eu sei que, nesta sala que
Ainda vejo com o direito;
Sou a aula de Nicolaes Tulp.

Pílulas, álcool, drogas, overdose.
Resultado de uma noite de abusos;
Sou o cadáver vivo da necropsia.


(Edgar Belial)

Terceiro exercício - poema de Eric Philip Sukys

Como num diálogo com as próprias
Profundezas de um pesadelo escuro
Em contraste com as mais inóspitas
Pálidas faces que causam distúrbio

Vejo algo de que os vermes
Reunidos em massa para a desgraça
Simplesmente se servem

A fragilidade alheia das coisas
Desbota como num rolo de filme
Usado e jogado fora
Uma escuridão transtorna
A própria noite como se fosse nada

A besta espreita entediada mas morta de ciúmes


(Eric Philip Sukys)

domingo, agosto 10, 2008

Segundo exercício - música 3




(Arrigo Barnabé, "Pterodactilo Contemporaneus", 1992)

Segundo exercício - poema de Eric Philip Sukys

Uma frenética melodia
Chega para mim como uma visita
Um piano tentando me dizer coisas indistintas
Gritando, sussurrando, alcançando memórias perdidas

Num primeiro momento não admito, mas ela faz certo sentido
Quando se equipara à confusão que vem me distraindo então

Há um fantasma sentado aqui ao meu lado numa sala
E para onde eu vou evoca um labirinto íntimo
Traz frustrações de novo para dentro
E parece sem tempo

Traz consigo tons distantes
Um silêncio um tanto barulhento
Desenha uma sintonia desconhecida
Mas não tão estranha quando penso no desejo
Ou no grande apego que não admito que tenho
Sinto-me um prisioneiro dessa visita
Imagem do que já fui ou fiz um dia
Em amores hesitantes

Então como numa oitava inesperada
Viro o rosto quando quando vejo que foi engodo
E um ideal descarado vê de perto uma estátua grega
Então supero e sigo em frente numa estrada não sinalizada

(Eric Philip Sukys)